As Coisas Minúsculas e o Futuro da Inovação

William Barter
4 min readNov 26, 2023

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São as conexões inesperadas que podem levar a inovações revolucionárias.

Às vezes, trata-se de introduzir algo totalmente novo, como uma abelha transportando pólen entre as plantas, para iniciar um grande movimento, aparentemente, invisível.

Na natureza selvagem, frutos são como ações de marketing.

Seu design e composição compõem uma fina estratégia de sobrevivência. Escondidas em seu interior estão códigos secretos, capazes de reconectar a existência da planta que o produziu à sua busca pela eternidade.

A estética e o saber do fruto atraem uma infinidade de seres que, em troca de recompensa, levarão as sementes e seu código genético para um novo ciclo de vida.

É um baile, onde a natureza escreve a sua diária sinfonia.

O DETALHE QUE MUDA TUDO

Só que há um pequeno, um miúdo detalhe, que muda tudo.

Frutos não simplesmente aparecem, assim, do nada. Existe um delicado e belíssimo ritual que define se haverá ou não novas sementes para essa planta: flores, pólen e o acaso.

Quando adulta e pronta para se reproduzir, a planta desabrocha suas coloridas flores a fim de chamar a atenção de insetos polinizadores. São eles que trazem o código genético masculino de outras plantas da mesma espécie para fertilizar a estrutura feminina e gerar um novo fruto.

Se uma abelha não polinizar essa flor, não haverá frutos, nem sementes, e, muito menos, novas plantas.

É nesse ponto que vejo muitas de nossas ideias, por melhores que sejam, perderem o jogo da natureza por que não foram polinizadas. Ou não havia flores, ou elas não estavam abertas para a chegado do pólen ou a visita veio sem o conteúdo necessário para fecundar novas ideias.

A inovação é um processo de insistência.

Inovação e criatividade no cenário empresarial compartilham paralelos com o intrincado processo de polinização na natureza. Assim como a polinização cruzada injeta diversidade genética nas plantas, a introdução de ideias inovadoras de fontes diversas promove a inovação nas organizações.

No mundo dos negócios, essa polinização cruzada de ideias é essencial para gerar um espectro de soluções criativas.

Assim como a diversidade genética aprimora a resiliência e adaptabilidade das espécies vegetais, a diversidade de pensamento no ambiente de trabalho contribui para a solidez de estratégias inovadoras, permitindo que as empresas prosperem em ambientes dinamicamente orgânicos.

Além disso, a necessidade de agentes externos, como polinizadores, no mundo natural alinha-se com a dinâmica colaborativa necessária para o sucesso da inovação.

Ao atrair e envolver perspectivas diversas, as empresas podem garantir a transferência efetiva do pólen criativo, facilitando as conexões inesperadas que levam a inovações revolucionárias.

A NATUREZA VIVE EM REDE

É preciso abraçar a diversidade, fomentar a colaboração e reconhecer o valor de influências variadas na promoção de uma cultura próspera de inovação.

A vida cria caminhos para continuar seguindo em frente, em constante aprendizado, usando um banco de dados natural para tomar novas e melhores decisões, sempre baseada na diversidade máxima que puder criar.

Podemos perguntar para o universo: por que as plantas precisam de polinização para gerar seus frutos? Talvez ela responda que é por causa da diversidade genética, que usa a soma de informações trocadas durante essas trocas para garantir que estão crescendo saudáveis, com as experiências uma das outras, para sobreviver e evoluir em ecossistemas sustentáveis.

Ecossistemas artificiais, como nossas empresas, podem mimetizar esses conceitos.

No contexto corporativo, na maioria das vezes, enxergamos o processo produtivo e criativo de um ponto de vista muito pragmático, em que fazemos as coisas seguindo regras rígidas para alcançar objetivos e gerar o esperado lucro.

No entanto, esses processos, por mais importantes que sejam, com o passar do tempo, acabam perdendo vitalidade, por falta de aprendizado e diversidade de perspectivas.

A criatividade artificial usa sementes forjadas para iniciar inovação. Às vezes, plantas inteiras são clonadas para antecipar fases e agilizar processos de produção e geração de resultados.

E é exatamente essa lógica que leva belas ideias a uma triste e, desnecessária, extinção.

TROCA DE INFORMAÇÕES

Na intensa troca de informações entre todos os membros de um ecossistema natural, dados são confirmados e novas informações ajudam a reconfigurar o mecanismo, a fim de torná-lo cada vez mais bem adaptado ao espaço em que se encontra.

Inevitavelmente, sementes viajam para novos lugares físicos que vão exigir um novo jeito de existir ali. Daí, essas informações precisam, de alguma forma, serem passadas de flor em flor, de mente em mente, de coração em coração, de atitude em atitude, para garantir prosperidade nesse viciante processo de expansão que a natureza não consegue evitar.

Empresas falham, muitas vezes, por que se fecham em rígidas cartilhas de sobrevivência.

Ecossistemas artificiais podem mimetizar a forma como a natureza se comunica e aprende, a fim de permitir diversidade e inteligência na gestas de suas informações.

Como costumo dizer, não existem resíduos na natureza. Lá, nada de perde tudo se transforma.

Reciclagem é uma estratégia da natureza que todos devemos aprender. Toda ideia tem seu valor, mesmo que não saia da condição de semente e se transforme em uma árvore adulta e dê frutos.

Cada tentativa precisa servir de aprendizado para todo o sistema.

Nem toda ideia/semente vai percorrer o caminho completo da inovação, mas a sua experiência precisa fertilizar a jornada daquelas que virão logo em seguida.

É como respeitar o futuro.

Nesse universo de interatividade saudável esbarramos, literalmente, com ideias incríveis, vindas de lugares improváveis.

Você acredita que nas conexões inesperadas podemos criar inovações revolucionárias?

Estamos dispostos a correr o risco de introduzir algo totalmente novo para iniciar um grande movimento aparentemente invisível?

Frutos não aparecem do nada.

Há um belo e delicado ritual que determina se haverá novas sementes em nossos ecossistemas criativos: flores, pólen e, agora, você sabe o que fazer com o “acaso”.

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William Barter
William Barter

Written by William Barter

Innovation Designer by Biomimicry. Host of CrieAtive+ Podcast: Future = AI + education. Author of "Creativity: In Search of Meaning for the Act of Creating."

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