Monstro Criativo

William Barter
3 min readNov 21, 2022

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Sempre ouvimos que precisamos dar espaço para a nossa criança interna, certo?

Mas a nossa vida criativa é um lugar perigoso e poucos têm coragem de pisar nesse terreno minado.

Por quê?

A atitude infantil é bela em uma criança mas ridícula em um adulto.

Pelo menos é isso que a maioria das pessoas diz.

Eduardo é uma criança incrível e a sua imaginação é algo lindo de se ver em ação

Hoje, tive a grata surpresa de me ver montando uma fortaleza de Lego, enquanto ele se preparava para me atacar com o seu Godzilla que cospe plasma e tem um super rugido ensurdecedor.

E o que isso tudo tem a ver com vida criativa e cultura colaborativa?

Temos medo.

Temos muito medo.

Todos nós carregamos um cemitério na cabeça.

Somos assombrados diariamente por vozes que nos dizem o que fazer.

São essas mesmas vozes que ditam o ritmo da ansiedade nossa de cada dia.

A gente se esforça para aprender a fazer bem uma coisa e garantir que as outras pessoas vão gostar da gente, e que alguém vai nos pagar uma grana por isso.

Crescemos com um certo desconforto dos efeitos da palavra “surpresa”.

Ser criança é tão complicado para nós que desejamos ser adultos o mais rápido possível.

Sufocamos nossos instintos naturais para o improviso e a exploração, e trocamos tudo isso por ideias e coisas prontas.

Forjamos uma identidade tão artificial que perdemos o poder de nos valer da nossa própria essência.

Eu mesmo passei boa parte da minha vida tentando provar algo para o mundo.

Demorei a entender que a criação, isolada da troca sincera e generosa de ideias, não gera valor real.

De vida criativa sempre solo, aprendi o valor da colaboração na marra.

Como Dudu é muito mais experiente com as peças, logo que terminou de montar seu mostro ele se ofereceu para ajudar na construção da minha fortaleza que ele mesmo tentaria destruir.

E foi inspirador vê-lo atento aos detalhes mínimos, pois queria que tudo fosse perfeito.

Ele queria que a estrutura que estávamos construindo tivesse todos os recursos disponíveis.

E o mais interessante foi quando ele me disse: “esses pontinhos aqui são as pessoas, você vai ter que fazer tudo para proteger elas”.

Não era apenas uma brincadeira, eu tinha uma missão.

Tudo tinha um nome e uma função e nada podia existir sem propósito.

O garoto pensou no roteiro e na trilha sonora. Ele ligou o Youtube e colocou trechos das músicas originais pra garantir que a emoção fosse completa, e que cada cena estaria no tom certo.

E o homem adulto assistindo e aprendendo como se cria usando a imaginação?

Quando percebi, já tinha mergulhado de cabeça naquela odisseia titânica.

A mãe do Dudu, minha amiga Thaís, só olhava da mesa, rindo da gente, enquanto acalentava a sua mais nova, a Ane.

De repente, não era mais eu.

De repente, senti que aquilo ali não eram apenas pedaços de plástico e papel.

Era a melhor aula de criatividade que já tinha experimentado.

E aquele era o melhor professor do tema, pois ainda não tinha perdido o poder da sua imaginação.

Daí eu pensei: se eu aproveitar essa aula aqui de verdade, tanto eu quanto ele seremos pessoas muito melhores.

Percebi que tinha outra criança ali e fiz até sons de motores e explosões usando a boca.

Hotwheels eram naves espaciais e pilhas velhas mísseis nucleares. A mágica da imaginação livre prova que não existe ingenuidade, mas genialidade quando há disposição de criar juntos.

A beleza da criação não está no resultado, mas na colaboração que ela consegue desenvolver.

Hoje, eu percebi que preciso levar mais a sério todas as oportunidades que tiver para brincar com a minha imaginação.

A vida fica mais leve e meus projetos muito mais divertidos e valiosos!

Obrigado, professor Dudu!

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William Barter
William Barter

Written by William Barter

Innovation Designer by Biomimicry. Host of CrieAtive+ Podcast: Future = AI + education. Author of "Creativity: In Search of Meaning for the Act of Creating."

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