Um “Concerto” Para a Crise Climática
Antônio Vivaldi escreveu no século 18, “tempestades, esses arautos da Primavera, rugem, / lançando seu manto escuro sobre o céu, / Então eles morrem em silêncio, / e os pássaros retomam suas encantadoras canções”. Esse é o trecho do soneto criado para ilustrar A Primavera, de sua mais fenomenal obra, As Quatro Estações.
Os concertos são repletos de imagens sonoras que evocam as características de cada estação.
Por exemplo, “Primavera” é cheio de exuberância, com melodias alegres e ritmos animados. O “Verão” é mais agitado e tempestuoso, com tons dramáticos e ritmos turbulentos. No “Outono” o clima é mais melancólico e reflexivo, com melodias suaves e ritmos lentos. Para o “Inverno” Vivaldi desenhou um ar mais sombrio e misterioso, com dissonantes e ritmos irregulares.
Uma obra inigualável, cheia de imagens sonoras e muita vida para servir de inspiração.
Como ignorar a natureza selvagem e tudo o que ela pode nos ensinar?
Nela também há regras e normas que governam os ecossistemas e garantem a sua sobrevivência, mas há também uma estratégia extra, que puxam as coisas para frente, que presta atenção ao que acontece e usa essas informações para se adaptar às constantes mudanças que, inevitavelmente, sempre acontecem sem aviso prévio.
A expressão Clima Organizacional é muito bem apropriada.
Clima são todas as variações atmosféricas que interferem direta e intimamente na história de qualquer ecossistema.
Umidade, calor, frio, chuva, vento, neve, etc. interferem na saúde do meio ambiente e também são influenciados por ele.
Como no clima físico, a atmosfera de trabalho em uma empresa pode determinar a qualidade das ideias e a forma como as pessoas interagem e se relacionam em ecossistemas criativos.
Toda empresa é uma fábrica de ideias, antes de ser uma produtora de bens e serviços.
As colheitas de inovação com suas espigas apinhadas de sementes dependem da qualidade e estabilidade do clima organizacional.
Ele deve ser capaz de entregar a quantidade adequada dos elementos básicos para a sobrevivência e evolução de seu ecossistema criativo, que é a essência de qualquer empresa, de onde vêm todas as ideias e sementes que revigoram e conferem todo o viço e saúde necessários para seguir sua história evolutiva.
Simplificando, o clima é responsável pela entrega de umidade e temperatura, uma dupla que alimenta o caldeirão de reações químicas que cozinham o caldo da vida.
Em uma empresa, o clima organizacional é governado pela mesma combinação de elementos, que aqui podemos chamar de ética e comunicação.
A umidade e a temperatura dos meios e das mensagens definem como as pessoas interagem e trocam ideias, o que pode ser positivo se estiverem em equilíbrio, respeitando suas estações.
Assim como na natureza selvagem, onde há estações bem definidas para assegurar a saúde e o tempo de nascimento, maturação, colheita e reciclagem, também deve acontecer nas empresas, como em ecossistemas criativos, a gestão desse clima, em que a comunicação garante que as estações e individualidades fortaleçam o cultivo de opiniões diversas, a fim de manter ciclos que se retroalimentam sempre de novas experiências.
A comunicação deve ser sempre fluida, permitindo que os nutrientes circulem livres por todo o sistema, sem reservas, levando e trazendo insights que mantém o ecossistema estável.
O “clima” nas empresas é o grande responsável pela qualidade da colheita de ideias.
A grande maioria dos negócios é baseado em culturas que ainda têm dificuldades em lidar bem com a natureza humana, e todas as suas potencialidades. Compramos máquinas acreditando que elas sozinhas podem criar a revolução que, na maioria das vezes, se mostra ilusória.
A saúde mental das pessoas e a forma como interagem determina como criam e desenvolvem suas ideias. A combinação de suas emoções compõe o clima da empresa.
Assim como o clima na natureza selvagem interfere na produção de boas sementes e sustentabilidade, também nas empresas o clima organizacional é responsável pela produção de boas ideias e evolução sustentável.
O “concerto” que as empresas precisam é composto de estratégias que a natureza ensina de forma bem explícita: conheça bem o estado de saúde mental e dê o estimulo certo às suas equipes, mapeando suas habilidades e talentos, permitindo que interajam de forma livre e segura, em ambientes que promovam a inovação como princípio básico, que começa pela cultura organizacional até chegar na produção de bens e serviços.
Esse é um tipo de música que qualquer pessoa gosta de ouvir.
Acredito ser esse o grande desafio para qualquer empreendimento que tenha como objetivo criar e desenvolver seu ecossistema criativo.
O clima pode dar vida ao meio ambiente ou devastar colheitas inteiras.
Imenso desafio, mas extremamente valioso.
Chuvas são extremamente escassas em regiões desérticas, mas, quando chove, podemos ver o renascimento de tudo o que estava ali, guardado no subsolo, à espera de um milagre. Da mesma forma, o uso fluido de uma comunicação viva e ética pode reviver a força criativa de qualquer equipe.
O clima é tudo!
Temperatura e umidade, no tempo e na intensidade corretos, fazem da natureza um lugar de tirar o fôlego. Ética e comunicação, da mesma forma, fazem de uma empresa um lugar onde temos o prazer de participar de todos os seus desafios.
Depois que a chuva vem, os “pássaros retomam suas encantadoras canções”.
Sempre haverá música e celebração onde o clima presenteia no tempo e intensidade certos o chão onde nossos sonhos são plantados. Vamos administrar empresas como a natureza selvagem administra a sua beleza.
Qual será a previsão do clima para os próximos dias… meses… anos?